quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que posso dizer.. sobre meu avô


Faz tempo já que quero falar um pouquinho do meu avô, até porque eu devo muito do que sou a ele, das minhas conquistas nem tão grandes assim ainda, mas que estão sendo cuidadosamente plantadas. Nas muitas vezes que já pensei em desistir eu pense(entre outras pessoas), nele, no quanto ele ficaria orgulhoso se me visse agora.

É difícil saber por onde começar. Sabe aquela pessoa incrível que marca sua vida e a de todas a sua volta, pois é, é ele. Ele foi um pai, um amigo, um avô incrível. Tenho muitas coisas pra contar sobre ele, mas tem uma muito especial. Bom pra entenderem melhor vou contar um pouco da história dele, brevemente, prometo.

A família do meu avô era de uma família humilde, a mãe era costureira, o pai nunca ajudava em nada em casa, então quem mantia todas as espesas era a mãe. Ela começou a costurar pra fora cada vez mais para manter a família, que era bem grande, e além do marido não ajudar em nada ele a traía. Sei que no fim das contas ele teve um filho com uma das mulheres e minha bisavó ainda criou ele. Não preciso nem falar que meu avô nunca gostou desse pai né?

Pois bem vamos viajar para o futuro. Meu avô conseguiu vencer na vida, se tornou gerente do Banco Real. E isso porque ele estudou só até a antiga 4ª série, ele brincava que se tivésse estudado mais tinha sido dono do banco, eu não duvido. Bom, mas voltando ele estudou e o destino o trouxe aqui pra Cláudio onde conheceu a minha avó. Se apaixonaram e casaram. No dia do casamento deles aconteceu uma coisa incrível! Minha vó conta que quando o casamento acabou ele ficou lá, ajoelho no altar, sozinho e ela nunca entendeu porque. Muito tempo depois ela perguntou o que ele ficou fazendo. A resposta? Estava rezando, ele pediu a Deus para que se por acaso ele fosse trair a vovó e fazê-la infeliz como o seu pai tinha feito sua mãe, para que Deus tirasse a vida dele naquele momento. Fala se não é lindo?! E o resultado? Ele viveu pra fazer a vovó e a família feliz. Acolheu a mim e a minha mãe com nossas vidinhas conturbadas e todos sempre que precisaram.

Não vemos mais homens assim como antes, sim é claro que vemos, homens tementes a Deus, fiéis, sim, eles existem (e eu estou esperando o meu), mas são bem raros. Não vemos mais tanta abnegação, isso sim é amor de verdade. Abnegação das duas partes na verdade né? Minha avó também renunciou algumas coisas, foi uma troca, por exemplo deixou de trabalhar fora, que era uma coisa que ela queria. Meu avô saiu de Frutal, uma das cidades entre as tantas que moraram e onde nasci, e voltou para Cláudio por amor a minha avó. Ele tinha toda a vida dele lá, amigos, a casa deles e tudo que ele gostava tava lá. Ele costuma viajar muito com os amigos para pescar, sair pra bater papo mesmo, beber a famosa cervejinha que ele tanto gostava, enfim, ele tava em casa. Até que ele começou a perceber minha avó triste e perguntou o que ela queria, o que faltava pra ela ser feliz, e ela, disse que queria voltar para Cláudio, para junto da família. Preciso falar o que ele fez? Mais do que depressa organizou tudo, vendeu a casa por um preço bem inferior ao real(porque a casa era muito grande, muito boa), e votaram para Cláudio.

Com a pressa em mudar por causa da minha avó, como disse ele não calculou muito bem o valor da casa e por isso quando chegaram em Cláudio não conseguiu comprar uma casa como queria. O dinheiro foi acabando e eles nunca mais tiveram uma casa própria, mas pra ele tudo bem, a vovó tava feliz, os filhos criados, crescendo na vida, era tudo que ele queria. Só tinha uma coisa que ele queria muito e que não aconteceu.

Antes de sair de Frutal, uns anos antes na verdade ele foi demitido sem justa causa do banco e não recebeu nenhum dos seus direitos e se aposentou com a uma quantia bem inferior a que ele realmente tinha direito. Ele sonhou com isso a vida inteira, mas infelizmente nunca chegou a ver a cor desse dinheiro, o processo durou mais de 15 anos, pelas minhas contas quase 20 na verdade. Essa é a nossa justiça, nem a idade do meu avô fez com que acelerassem o processo.

Pouco tempo depois que ele morreu o dinheiro saiu. Na época que ele morreu eu não estava aqui em Cláudio. Morei a vida inteira com ele mas quando ele morreu eu estava a uns meses morando em Rio Preto/SP. Quase um ano depois eu voltei para Cláudio e acompanhem o fim do processo para conseguir o dinheiro que meu avô tinha direito, até ajudei no processo, dando uma prensa no advogado, coisa que jamais tinha me imaginado fazendo. Sério, eu dei a maior broca nele, basicamente o chamei de irreponsável. Não deu outra, depois desse dia ele ficou mansinho comigo e com minha mãe e aí foi pouco tempo para o dinheiro sair. Ele saiu, uma quantinha bem inferior do que o que meu avô tinha esperado e morreu esperando. Aquele dinheiro pra mim teve um gosto de féu, se eu fosse a única herdeira dele(só uma hipótese, mega remota), eu não ia querer nada dele, porque ele foi uma das razões da tristeza do meu avô nos seus últimos tempos de vida. Aliás foi um dos maiores culpados da sua tristeza durante metade de sua vida praticamente. Mas tudo bem, o dinheiro saiu para minha avó e tem nos valido, a ela e aos filhos quando precisam, e isso era tudo que meu avô queria, poder ajudar os filhos com essa dinheiro, também queria comprar uma casa, mas o dinheiro não chega nem perto de realizar esse sonho dele.

Enfim, eu poderia ficar aqui dizendo mil coisas sobre meu avô, mas o essencial eu já disse. Só posso completar que ele foi um homem incrível, e que mesmo que ele não possa ter deixado a herança financeira que ele tanto queria, o que ele deixou dinheiro nenhum no mundo paga. Ele nos deixou um exemplo de honestidade, respeito. Ele trabalhou uma vida inteira no banco e nunca fez nada de que pudésse se envergonhar, foi honesto, só recebeu aquilo que lhe era de direito. Ele podia ter ficado rico como alguns colegas, se fosse desonesto, felizmente ele nunca foi. Aprendeu com o pai a ser o avesso dele, a ser justo, fiél e do jeito dele, transbordar amor para todos os lados. Enfim, eu tive o melhor avô do mundo, tive nele o pai que não encontrei no meu, o mais sábio, mais leal. Ah... Deixa eu parar por aqui antes que desabe.

E essa é só uma pequena parte da história de Geraldo Magela de Oliveira Castro, o melhor homem que já conheci, e que eu vou amar eternamente.

3 comentários:

  1. Adoro ler seus textos, penso a mesmíssima coisa sobre a Família e sobre os meus saudosos Avós, hoje apenas o meu Avô paterno esta comigo, alías estou indo agora a casa dele para lhe dar um forte abraço.

    Beijosss
    Jeferson
    Blog do Vascão

    Obs: Obrigado pelo seu comentário lá no blog, não mereço, mas agradeço de coração.

    ResponderExcluir
  2. Gente, só uma correção, meu bisavó não valia grandes coisas não, mas não era alcólatra, só nunca ajudou em nada mesmo e traiu minha bisavó. To corrigindo.

    ResponderExcluir
  3. Oi Marina, vim conhecer seu blog, desde que comecei a seguir, não tinha tido muito tempo. Mas parei nesse texto, que acho difícil ninguém se identificar. Sei que tem bençãos que quando chegam parece ter gosto de féu, talvez por ter cgehado aparentemente tarde demais. O mais lindo nisso tudo, é o reconhecimento dos valores do seu avô, e a certeza de que tipo de herança ele deixou.
    Fique com Deus!
    Bj

    Simone

    ResponderExcluir