sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cultura interiorana

Ontem tive um dia, ou melhor uma noite muito proveitosa. Fui para a faculdade para assistir as duas últimas aulas de uma matéria bem chata, com uma professora que não colabora nada também, mas ok, tinha que ir porque se faltar mais uma vez que seja eu fico na matéria por falta. Só assim pra ela fazer alguém assistir aula com ela, com a ameaça de pegar dependência por causa de falta e repetir essa matéria por causa de falta é osso.

Bom mas antes da aula dela a noite tava boa. Conversei muito com um amigo sobre um projeto que quero fazer aqui na minha cidade, a nem tão pacata Cláudio. E por causa disso entramos em uma discussão muito interessante sobre a questão cultural em cidades interioranas. Conversamos sobre como existe uma cultura como posso dizer, um tanto fechada, vou tentar explicar. As pessoas não aceitam muito bem coisas novas. Ele usou um exemplo que é bem simples e explica bem. Se uma pessoa em São Paulo resolve usar uma roupa mega diferente(tipo até uma saia com uma meia calça amarrada na cintura como se fosse um cinto e um chapéu em forma de capitão caverna vestido de Carmen Miranda), sim as pessoas estanhariam, até eu estranhei minha ideia. Mas enfim, o que quero dizer é que sim, as pessoas estranhariam mas não ligariam muito, e com o tempo alguns até poderiam imitar. Agora experimenta fazer isso no interior? As pessoas vão rir de você até babar, vão apontar e perguntar quem é o "e.t" que inventou aquilo.

Eu sei por experiência própria, eu nunca fui de seguir moda, nem regrinhas sociais(não as idiotas claro), nunca fui de aprontar, muito pelo contrário sempre fui quieta demais. O que quero dizer é que não me importava muito em deixar de fazer alguma coisa só porque as pessoas acham estranho. Por exemplo, uma coisa idiota, tem nada a ver com as regras socias que falei, mas pra pessoal de interior é quase isso. Uma vez, quando era nova ainda, sai com uma sombrinha no sol, pra tampar do sol, sombrinha, sol, normal. Mas para quem viu a cena não foi, ficaram tirando a maior onda com a minha cara, dizendo coisas do tipo: "que chuva!" Sabe? Muito idiota, mas eu não liguei, apesar de que era adolescente na época e como uma adolescente ficar um pouco sem graça sim. Um exemplo tosco com já disse, mas é só uma coisa mínima pra ajudar a entender todo o resto.

Tanto aqui como na maioria das cidades de interior, acredito, existe essa mentalidade pequena. E mais ainda se aquela pessoa só conviveu com aquilo a vida inteira, só aquela vidinha de concluir o segundo grau, arrumar um tabalho, casar e ter filho(não necessariamente nessa ordem nem com todas as etapas). Claro, alguns fazem faculdade também, aliás aqui muita gente faz sim, mas na proporsão que se esperaria. Mas é isso sabe. Conversando com o meu amigo eu comecei a pensar em como seria minha vida se eu não tivesse morado pelo menos um tempinho fora daqui. Eu nasci em outra cidade e vim pra cá com 5 anos e meio, aqui fiquei até meus 19 anos, morei um ano e meio fora e voltei com 20. Foi pouquíssimo tempo morando fora daqui, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, mas o que esse pouco tempo modificou minha vida é fato. Antes de ir pra lá eu não tinha qualquer pespectiva de futuro, não tinha noção de como seria minha vida. Acho mesmo que não seria nada demais. Eu estava sem emprego, sem estudar, porque fazia supletivo e só tinha na cidade visinha e não tinha como ir direto, e sem ânimo nenhum também. Não via nada interessante aqui que pudésse me ajudar. Eu tava muito pra baixo.

Um belo dia meus tios foram passar o natal aqui em Claúdio e comecei a conversar com minha tia. Conversávamos sobre o que ia fazer da vida, falamos dos estudos, disse que tava parada, por causa do que já falei e ela me perguntou porque não ia para Rio Preto, para a casa dela que lá tinha bons supletivos e poderia concluir lá. Disse que era complicado, que queria muito mas não tinha como. Nesse momento meu tio chegou e perguntou: " o que falta para você ir para Rio Preto?" Disse que era grana e ele falou que não faltava mais, ia me ajudar lá enquanto precisasse. Então em menos em dois dias, eu acho, eu arrumei minhas coisas e mesmo sabendo que ficaria longe da minha mãe, dos meus avós e dos poucos amigos que tinha, eu fui, com a cara e com a coragem, certa de que não teria outra chance como aquela.

E foi nesse ponto que começamos a refletir sobre a questão cultural no interior. Porque acho mesmo que falta muita opção de cultuta em muitos lugares, aqui cultura basicamente não existe. Cultura aqui quase que é só ir pra um boteco no fim de semana e encher a cara, usar droga, quebrar garrafa, e não estamos falando só de periferia não, é uma cultura geral. E não os culpo completamente, não tem nenhuma opção de cultura mesmo. Tava falando com ele sobre como queria ajudar nesse sentido aqui, trazendo coisas novas, culturas como Hip Hop que ajudam nesse sentido de estravasar essa carga negativa, e trasformar numa coisa bacana. Enfim, dá pra fazer tanta coisa. Mas pra dar certo as pessoas tem que conseguir "abrir a mente", se não fracassa antes de começar. Se olharem pra isso como olharam pra minha "sombrinha", aí a coisa não funciona. É preciso abraçar a oportunidade, como eu fiz, mesmo sem ter ideia do quanto a minha decição me ajudaria futuramente. Se as pessoas não tiverem a mentalidade de crescer mesmo, de entender que tem muito mais coisa interessante na vida que festa, farra e droga, as coisas não mudam. E nesse caso podem ser oferecidas grandes oportunidades que nada vai mudar.

Eu sonho em ver minha cidade melhor nesse sentido e que futuramente possa até servir de espelho para outras cidades que vivem da mesma forma, quase que "paradas no tempo". Não quero generalizar a coisa, é claro que tem muita gente com uma boa visão cultura e sem visão cultural nenhuma em todos os lugares, mas é que no interior isso fica mais marcado mesmo. Mas as coisas sempre podem mudar e eu ainda espero ver muita coisa mudar, a começar por aqui. Porque como já disse em um post uma vez, não é a cidade que escolhi, mas que me escolheu e eu quero ajudar a deixar alguma marca nela, como ela deixou em mim, de uma forma, ou de outra.

4 comentários:

  1. Desculpem o abandono do meu blog, é falta de tempo mesmo. Mas agora eu descontei também, tem texto pra ler durante uma semana.rsrs Só espero não ficar tanto tempo sem postar novamente. Abraço

    ResponderExcluir
  2. Nem esquenta Marina, adoro ler seus textos, você é dez, gosto muito de você, alias te desejo tudo de bom a começar por um ótimo fim de semana.

    Beijos no seu coração
    Jeferson

    ResponderExcluir
  3. Oi, tem um selinho pra vc la em casa. http://reciclagemdasletras.blogspot.com/
    Bjs,
    Mi

    ResponderExcluir
  4. Pasando para te avisar que falei do seu Blog na última postagem do meu Blog e também coloquei seu link por lá.

    Aguardo seu comentário.
    Abraço
    Jeferson
    Blog do Vascão

    ResponderExcluir